segunda-feira, 1 de abril de 2013

Déjà vu

Jogar uma pedrinha num concentrado d'água dissimula razões. Tal ato esconde, nem que seja, a sensação de que as ondinhas metaforizam as tentativas do atropo-cotidiano. Dependendo da força aplicada no arremesso, as ondulações demoram mais para cessar. E as veredas humanas são diametralmente afins a isso: certa intensidade de desejos determina a prorrogação de gestos, segredos e aflições.

Talvez tenha sido Nietzsche que esmigalhara o Estado a um cenário em que homens se retiram da vida sob um modo condenável pelo viés respeitável. Derramo essa semântica ao ser-para-si, como compensação. O indivíduo delimita-se, (quase) laconicamente, a rígidas determinações contrárias ao coerente (com)portar-se. Nesse processo de negação, ocorrem as desassociações contínuas que impedem o usufruir, quem sabe, do bom impulso - em estilo, quiçá, mútuo ao carpe diem.

Patentemente, as ondas "duplamente" idiossincráticas em que o ser-para-si flui ou atraca ratificam a normalidade dos movimentos coletivos. No entanto, deveriam retificá-los: abraçar uma maré social somente (somente!) denota incongruência entre uma necessidade e um desejo. Se este determina a posição de distanciamento a partir de mágoas, normas deveriam sistematizá-lo como essencial em todos os âmbitos, principalmente em detrimento a necessidades de cunho, por assim dizer, cristão. 

E o concentrado d'água, quando menos se espera, retorna à física de antes do atrito com o pedregulho. A certo clique, entretanto, você pensa: "Basta correr até o outro lado do açude e jogar nova pedrinha!". Não obstante a corrida desesperada, o inédito arremesso não revela nada que satisfaça: suspeitas ou incertezas persistem e correr de novo não soa o melhor fármaco. Em foco: soa um ciclo, soa um vício... mas apenas talvez soe uma esperança.

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