sexta-feira, 15 de julho de 2016

Um não às 4h48?

O dia a dia é dolorido. Mais dolorido, porém, é descobrirmos que essa rotina mordaz é consequência... nossa só. Já percebeu que ela não dói devido a seguirmos um roteiro pronto? É bem o contrário: dói se concretizamos uma fuga.

O diferente é quem mais se machuca. Na moda, você recebe elogios; na onda, você possui muito companheiro. Fora das rádios populares? As críticas e a solidão subsequente aos olhares de reprovação. Afinal, por que soar em acorde contrário ao padrão de três?

Ao fugir da autoajuda, novo impacto: pessimismo, descrença. Um erro? Uma pancada! Outro erro? Outra pancada. Um acerto? Ué, é obrigação! – a qual curiosamente depende da... alheia interpretação?! 

Ai se méritos fossem escancarados como falhas são!

Arrisque precisar de alguém, se tiver coragem: cada um na sua caverna se fixa! Anuncie um pote de ouro: todo mundo passa a ser sol. A gangorra pesa, novamente, à alheia interpretação, como defendeu o músico: "De onde menos se espera / dali mesmo é que não vem".

Sei: até dentro dos padrões alguém pode estar fingindo. Falsetes falsos são fáceis de fazer! Só que esta crônica gira em torno das exceções, sabe.

E é exceção quem reconhece nossa humana caminhada triste, dolorida.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Infelizmente, comum

Imagine que você está estudando uma disciplina qualquer, por exemplo gramática. Após ler a teoria e perceber que não compreendeu todo o conteúdo, você relê a matéria com atenção redobrada; após encarar os testes e perceber que errou algumas respostas, você corrige tais exercícios com rigor diferente. Dá um trabalhinho, mas essa é uma técnica que bastantes estudantes adotam; poderia, inclusive, extrapolar o universo estudantil e pairar sobre o mundo trabalhista. Evitaria aborrecimentos.

Infelizmente, a solidez vive longe das atividades profissionais. Passou da hora de os cidadãos perceberem que um erro pode ser devidamente superado se um pedido de desculpas rolar e uma empreitada rumo ao acerto for instaurada. O problema é que mesmo quem conhece essa lógica não age assim. Meu condomínio ilustra bem esses ambientes de oba-oba. Recentemente, um dos funcionários transgrediu uma norma interna, o que me gerou certo transtorno. Quando reclamei, o síndico quis engrossar o tom e argumentar que EU estava errado, isso porque fui incisivo em minhas queixas. Eis uma tática famosa de quem tentar driblar as próprias faltas, só que tapetão pra cima das minhas reclamações não rola.

Ou não rolava. O contexto de fuga das responsabilidade é tão comum que a vontade de exigir passos corretos vai sumindo. Constantemente, ouço pessoas que passaram a ser mais pacientes ao decorrer dos anos, e o incrível é que nem todas atingem esse estágio devido a "amadurecimento". Muitas simplesmente percebem que desejar que certos profissionais sejam justos parece desejar que esses profissionais viajem a uma guerra, ou seja, ele fará de tudo para evitar. Obviamente, não estou defendendo que trabalhador seja escravo, subserviente. A percepção correta é: quando piso num tablado, vou dar a melhor aula que eu conseguir, pois isso é o melhor para o coletivo. O médico deveria ser assim, o porteiro, o cobrador, o advogado, o síndico...

Friso que não quero dar lição de moral. Já errei no meu dia a dia e guardei um nó gigante quando não consegui me desculpar ou corrigir a falha. Concordemos, porém, que não é necessário sorrisinho cordial (falso) para cumprir-se uma norma que ajudará todo mundo que estiver envolvido. O mesmo sorrisinho não vai rolar após algum incompetente atrapalhar nosso dia a dia. Você logicamente se irrita quando não entende a matéria ou erra o exercício, lá na gramática, mas evolui quando corrige os tropeços estudantis e prova qualificação. É tão difícil ser assim no mercado de trabalho também?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A dança dos deuses (movimento 1)

Seria no mínimo ingênuo acreditar que futebol são apenas 22 malucos correndo atrás de uma bola e... nada mais. Não é bem assim.

Basta observar algumas das rivalidades mundiais para comprovar a amplitude sociológica por trás de uma partida de futebol. Na Escócia, por exemplo, Celtic e Rangers encenam o extremo entre católicos e protestantes. Nos primórdios de Old Firm, a religião era determinante inclusive para decidir em qual time atletas atuariam. Não é à toa que jogador já andou morrendo, em meio a pancadarias, nos gramados do clássico. Criminal? A sociedade real também o é.

Há quem pense: "Celtic e Rangers são dois times inexpressivos". Todavia não se pode afirmar isso sobre Real Madrid e Barcelona, certo? Por trás das cifras milionárias que envolvem as duas equipes espanholas, pulsa uma veia social fortíssima, opondo à capital Madrid a autônoma Catalunha. Da época do regime franquista às recentes declarações de Piqué, uma vitória do time catalão demarca, na mente de um culé sonhador, até mesmo um passo para a independência de sua comunidade. Utópico? A sociedade ideal o é também.

No Brasil a valsa segue ao mesmo compasso. O meu time do coração simbolizou, historicamente, luta contra o racismo: abria-se a jogadores negros recusados pelo rival. Outros casos notórios também simbolizaram as diferenças, por exemplo, de renda: o clube "dos ricos" e o clube "dos pobres" se embatiam... Em estádios nacionais, aliás, ainda hoje se observam cenas de discriminações – lástima infelizmente recorrente em arenas do globo todo. Um segundo lado triste da sociedade real.

O título desta crônica faz referência a um livro de Hilário Franco Júnior. O leitor que goste de futebol deve ler tal obra. O que não goste do esporte, mas curta sociologia e afins, também precisa folheá-la. Isso vai ajudar a concretizar que futebol não são apenas 22 malucos correndo atrás de uma bola: trata-se, na verdade, de uma importante metáfora histórico-social.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

1943 – 2015

A atriz sobe no palco para encantar o público... outra vez. Ela declama, dança, canta – e a plateia começa a perceber a própria vida.

O senhor, já velhinho, lembra-se de folias várias. As festas da sua adolescência (“Diferentes dessas putarias de hoje”) faziam-no bastante feliz. Considera também que as próprias experiências amorosas poderiam virar uma peça, mas ele saberia interpretá-las com a excelência da atriz? Resigna-se à força da memória, comemorando viúvo por ter sido feliz.


A senhora, vestida de preto, chora a solidão. Conviveu durante um tempo longo com alguém que não a amava, mas qual o mal? Gostava dele. Gostava de verdade! Até hoje visita o túmulo de quem, embriagado, agredia-a todo dia; e amargura críticas por isso. Só que ao ouvir a atriz jurar paixão eterna, no primeiro ato da peça, percebe que ainda pode, no último ato da vida, buscar alguma boa lembrança que se sobreponha às antigas aflições.


A jovem apaixonada encanta-se com a poesia da atriz. Enxerga em cada fala as próprias idealizações para o amor. Está naquela fase em que (se) acredita que tudo vai ser perfeito, mal sabendo que o rapaz que a olha, na fileira ao lado, será o responsável pela primeira decepção passional. É um belo roteiro para alguma tragédia, mesmo que tal trama já seja manjada... A jovem, no entanto, vai optar pelo risco.

A própria atriz se redescobre. O teatro é sua vida – e as transformações da personagem são as transformações da própria mulher. A indumentária, a sonoplastia, as marcações não se restringem à ficção: amalgamam-se ao concreto e ninguém separa mais o cisne da bailarina. Após duas horas, quando abandona o palco, nota que não consegue parar de interpretar. Só que essa interpretação não é mais mentirosa: é aquela necessária à felicidade idiossincrática (encanto maior não há).

Já o cronista... Bom, o cronista aprendeu um novo modo de enxergar a si mesmo. A atriz explana todas as sensações – e ele tem todas essas sensações em si, mas não conseguia alcançá-las. Cada diálogo a que ele assistiu resgatou mudanças: o aperto de mão mais sincero, a paciência com quem reclama, o trecho certo do clímax e do desfecho. Cena após cena, o teatro desmistifica a impossibilidade de mudança do homem, sem muito mistério em torno do porquê disso...

É que a atriz ensina, no palco, como a vida fora dele deve ser.

domingo, 12 de maio de 2013

A mãe

Quem mais, além dela, trama cenas inconvenientes e mesmo assim não nos chateia? Quer dizer: na adolescência, odiamos quando os amigos riem da foto do neném pelado; um pouco mais maduros, todavia, aprendemos a fazer piada desse tipo de sacanagem na qual mãe é especialista. Tão normal!

Lembro-me de já ter passado poucas e boas nas mãos da minha progenitora. Algumas surras foram antológicas, assim como o abraço após as decepções que a vida insiste em nos apresentar. Hum... e quando a gente volta correndo pra casa, após a temporada na praia, doido pra provar o feijão que só ela sabe preparar? (Pode trocar o feijão por outro prato de maior preferência.)

Mães têm um quê de bruxa e fada. Elas encontram, na devida prateleira, a blusa que por vinte mil vezes havíamos procurado! E se esquecemos essa mesma peça de roupa antes de um passeio num dia ensolarado, o arrependimento bate nervoso: frio cortando até a alma. A gente demora a aprender que palavra materna não deve ser desobedecida.

Alguém já viu uma mãe chorar? Nada parte mais o coração. E pensar que esse pranto tantas vezes é unicamente por nossa culpa... Ela também dorme menos do que nós, visto que precisa estar apta a nos embalar ou preparar um café que deveria ser capaz de vencer qualquer mau humor matinal. Tudo isso sem cobrar taxa de serviço - pelo menos não em espécie.

Antes de publicar esta crônica, mostrei o esboço à minha mãe. O que ela disse? "Muita gente vai criticar o título, que não demonstra... criatividade". Rebati, porém: quer palavra mais criativa, na teoria e na prática, do que "mãe"? Inclusive quando, durante uma bronca, repete mil vezes que sem ela a casa inteira morreria...

E com razão.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Déjà vu

Jogar uma pedrinha num concentrado d'água dissimula razões. Tal ato esconde, nem que seja, a sensação de que as ondinhas metaforizam as tentativas do atropo-cotidiano. Dependendo da força aplicada no arremesso, as ondulações demoram mais para cessar. E as veredas humanas são diametralmente afins a isso: certa intensidade de desejos determina a prorrogação de gestos, segredos e aflições.

Talvez tenha sido Nietzsche que esmigalhara o Estado a um cenário em que homens se retiram da vida sob um modo condenável pelo viés respeitável. Derramo essa semântica ao ser-para-si, como compensação. O indivíduo delimita-se, (quase) laconicamente, a rígidas determinações contrárias ao coerente (com)portar-se. Nesse processo de negação, ocorrem as desassociações contínuas que impedem o usufruir, quem sabe, do bom impulso - em estilo, quiçá, mútuo ao carpe diem.

Patentemente, as ondas "duplamente" idiossincráticas em que o ser-para-si flui ou atraca ratificam a normalidade dos movimentos coletivos. No entanto, deveriam retificá-los: abraçar uma maré social somente (somente!) denota incongruência entre uma necessidade e um desejo. Se este determina a posição de distanciamento a partir de mágoas, normas deveriam sistematizá-lo como essencial em todos os âmbitos, principalmente em detrimento a necessidades de cunho, por assim dizer, cristão. 

E o concentrado d'água, quando menos se espera, retorna à física de antes do atrito com o pedregulho. A certo clique, entretanto, você pensa: "Basta correr até o outro lado do açude e jogar nova pedrinha!". Não obstante a corrida desesperada, o inédito arremesso não revela nada que satisfaça: suspeitas ou incertezas persistem e correr de novo não soa o melhor fármaco. Em foco: soa um ciclo, soa um vício... mas apenas talvez soe uma esperança.

sábado, 30 de março de 2013

Pra não dizer que eu não falei de...

Você clica no "play" do iTunes e sua vida se torna linhas melódicas. Afinal, raro é o indivíduo que nunca se enxergou na letra de alguma canção. Alterações cíclicas nas personalidades musicais eventualmente ocorrem, claro. Todavia, desapegar-se totalmente de um acervo com meia dúzia de vitais CDs soa impossível para muita gente. Por exemplo, para mim.

Há quem aprenda a socialmente protestar ouvindo Chico Buarque e sua voz contrária à ditadura militar. Nos anos 1980, bandas de um pop rock inigualável também deram tom à crítica que muitos jovens gostariam de impor! De "Roda viva" a "Até quando esperar", conta pontos refletir sobre como a arte consegue engajar-se a ponto de produzir belas metáforas, as quais simbolizem a impaciência com situações pulsantes. Vivência e ardor.

A bossa nova manifestou refinadíssimas as percepções por que um ser humano pode perambular. Se "Chega de saudade" apresentou a inovação no jeito de embalar o violão, "Garota de Ipanema" remoldou a mulher-violão, acentuando as consequências mágicas dela em tudo e todos que a observam. Ah... "Se todos fossem iguais a você", só pelo título, já encerra o gostinho de cadenciar o que a gente sempre quis gritar para a pessoa que nos mostrou novo modo de sorrir - sob a certeza de torná-la uma verdade incontestável. Inovações, sínteses e fantasias.

E quanto ao que pode rolar num... fundo de quintal? Pois é, meu amigo, o "por baixo dos panos" nasceu com o samba! A sensação tão provocante que o momento "escondidnho" pode causar se liga à música que é a cara do Brasil, que embala a gafieira, na qual dois corpos explodem, explodem, explodem! Daí pra frente, é aquele papo: o que é que a baiana tem, nervos de aço e salve Santa Clara. Perigo e ambição.

Mas também há o sertanejo de Pena Branco e Xavantinho, retratando o homem da terra; um rap, dando voz à discriminação inserida nas camadas sociais; bons repentes, gerando humor e leveza até para quem caminha na Rua XV de Novembro! Eh... não há como negar que existe a canção certa para cada indivíduo. Mesmo quando a gente clicar no "stop" do iTunes, o compasso continuará afinado: dar-se-á início à sinfonia mental tão nítida a cada um. Por exemplo, a mim.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Eu quero sempre mais!

Algo que me entristece bastante é o desinteresse (alheio) por conhecer cultura. Às vezes, tamanha preguiça assume a face de simplesmente não consumir algo que já tenha sido indicado e, por si só, iluminaria a caverna que pode envolver o dia a dia de algumas pessoas. Machadiano, não acha?

Muitos links de músicas são compartilhados na minha página de Facebook. Obviamente, ouvir todas despenderia as vinte e quatro horas do dia - tempo que a rotina laboral ocupa cada vez mais intensamente. Todavia - nas canções que consigo curtir - reconheço, com boa frequência, sonoridade e letras memoráveis. É o repertório musical sempre ascendendo!

Livros levam mais tempo para serem apreciados, mas nem por isso perdem o posto de maior porta cultural. Um pequeno excerto já deveria ser suficiente para formar filas em livrarias ou resultar em milhares de obras sendo entregues pelos Correios. Só imaginação: o que se concretiza é a estagnação do (precário) gosto pela leitura, implicando índices baíxissmos de raciocínio, interpretação, lógica...

Pense no cinema, nas peças de teatro, na boa entrevista passando na TV... Hoje mesmo, há pouco, assisti ao programa Esquenta (do qual não gosto nadica) somente porque soube, via Twitter, que "um tal de Roberto DaMatta" estaria por lá. O antropológo falou umas verdades e eu fiquei feliz por conseguir garimpar raro ouro na televisão domingueira. Um viva aos tuiteiros!

O pensamento popular brasileiro prega algo como "Desistir? Nunca!" - e vou procedendo a ele. É difícil lidar com a realidade de que um cidadão não lê nem sequer um artigo de opinião durante o mês, mesmo sabendo que terá de escrever uma dissertação no ENEM. Complicado! Mas pretendo, mesmo assim, continuar indicando músicas e livros, estimulando a filmes e entrevistas... e alimentando sonhos também.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Coração de luto

Recuso-me a ouvir Teixeirinha hoje. A genialidade do compositor permanece a mesma, porém a música que narra a morte da mãe dele não embala o domingo após tantos mortos lá no Rio Grande do Sul. O incêndio na balada queimou bem mais do que 245 jovens.

A casa noturna teve todas as culpas. Sinalização inexistente; seguranças despreparados; irresponsabilidade de um músico; alvará vencido. Todavia, entristecedora é a lágrima da mãe que perdeu o filho; o namorado que agarrou só o corpo da companheira; os amigos que não poderão mais brindar alguma alegria.

De longe, soa insuficiente o que se pode fazer para ajudar. Orações e doações parecem tão simples! Ainda bem que há enfermeiros, médicos, psicólogos e bombeiros atuando em prol de salvar as vidas por lá - uma mão verdadeira a renascidos que poderão voltar a sorrir. E que haja força para quem não poderá mais ouvir o riso de quem tanto se amou...

Dizem que Santa Maria intercede, junto a Deus, para que os pedidos de quem nEle crê sejam atendidos. Não custa pedir, pois, que a paz retorne à homônima cidade gaúcha. E não importa se, para mim, muitos dos presentes na balada KISS eram desconhecidos: desde o dia 27 de janeiro de 2013 tenho o meu coração de luto.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O extrato do Natal

Chega ao fim mais um 25 de dezembro. E embora alguns engraçadinhos insistam em muito misturar a bebida alcoólica com o trânsito, bastantes familiares dirigem para casa felizes, de barriga cheia e com vários presentes. O dia fora, de fato, magnífico.

Não se trata de reviver um lado religioso. Penso apenas numa mesa farta, com a costela a desmanchar; a caipirinha, no balcão do truco, trincando; um violão no qual se relembram boas canções. E os parentes dando risada como se não houvesse um dia de trabalho por vir (junto às respectivas dores de cabeça)?

A gente tem o direito de, por instantes, simplesmente comer, beber e divertir-se. Alguns tios, inclusive, levam isso bem a sério! E mesmo as tias que tanto falam mal da vida alheia estão no seu direito: é do momento! Deixemos de tanta seriedade, a fim de termos... mais fotos engraçadas!

Chegou ao fim, de fato, mais um 25 de dezembro. Durante algumas horas, os problemas parecem ter ficado lá fora, bem longe do portão. Não se trata de esquecer a sociedade; vale a pena, todavia, também pensar na alegria da porta para dentro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Ai de ti, subjetividade.

Quando estamos dançando em um salão, a alegria dos passos dura bons e prolongados instantes. Trata-se de minutos de riso fácil, nos quais a angústia não dá as caras. Todavia, basta aparecer a primeira cadeira vazia para que, após diversas músicas (e respectivas coreografias), uma sugestão rapidamente ganhe força: "Não seria a hora de parar?!" A gente, então, sossega.

A dança metaforiza o cotidiano. Passo a passo, busca-se sempre o prazer mais escondido, o reconhecimento penosamente encantador. Respostas positivas provêm em escala grandiosa às vezes, mas as doses homeopáticas com que se tentar infiltrar uma decepção parecem surtir mais efeito. Nessas ocasiões, esconder-se em pensamentos vários pode até ser mais vantajoso, todavia pulsará sempre a sensação de malogro (apenas talvez inevitável). Experimente-se, por exemplo, tropeçar no meio do compasso...

A nossa prisão encerrada em liberdade causa confusão aos olhos próprios e também aos alheios. Engana-se, porém, quem acredita em que cortar as asinhas dos desejos eliminaria as incertezas. Ninguém é capaz de atingir plenamente o processo contínuo de superação, tampouco de abandonar as veredas da transcendência de valores. No fundo, ser livre é ao mesmo tempo pecado e salvação, assim como as chances de queda em uma coreografia mais complexa: da glória ao inferno.

E assim se segue a tentativa de abandonar as cavernas quotidianas. Tal atitude de descoberta de uma nova amplitude, por sua vez, pode gerar conflitos entre (ex-)iguais, pois parece complexo conviver à escuridão de quem já recebera esclarecimento mas, por teimosia ou ingenuidade, prefere imobilizar-se pessoal e socialmente. É como bailar junto a alguém que deseje a fluência plena não obstante esteja com a perna quebrada: no mesmo salão, haverá giros em harmonia mais plausível e inflamável.


Só que, após minutos na cadeira, pode "aparecer" uma nova valsa estimulante - junto a uma nova melodia. Aí, recomeça-se a dançar em campo minado (ou não).

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Falta(rá) um brinde.

Na (des)organização social brasileira, é comum notarmos algumas estruturas gritando por liberdade. Tal premissa se trata de uma negativa imposição semântica ao conceito comemorado no dia 7 de setembro. Pensemos, nesse sentido, apenas em educação, saúde pública, segurança social - pilares que, há muito tempo, desejam uma independência em relação aos aspectos destrutivos que os norteiam.

Muitos professores guerreiam diariamente pela liberdade de poderem ensinar como realmente se deve. Além disso, anseiam por um salário digno à categoria e, acima de tudo, desejam o respeito social pela classe que formula todas as outras. Porém, como ocorre nas revoluções, tais profissionais enfrentam entraves dentro da própria ideologia, visto que precisam lidar com companheiros de jaleco que não se importam, por exemplo, com o objetivo de uma greve. Dificultar o progredir.

Em postos de saúde, é preciso brigar (em vários casos, literalmente) por uma senha. As batalhas começam já na triagem para o possível atendimento, estendendo-se às horas de espera pelo diagnóstico e terminando, muitas vezes, no atendimento precário por parte do especialista. E ai de quem resolve discordar do sistema: a mídia, no papel de opressora sensacionalista de liberdades, classifica qualquer grito por mudança como vandalismo. Criminalizar o progredir.

Libertar-se da violência é um desejo profundo de 90% da nação (os outros 10% lutam com todas as armas para mantê-la). Os centros urbanos se desenvolvem em espírito de exclusão social, gerando municípios cada vez mais violentos e aumentando o pessimismo em relação à paz coletiva. E, nesse ponto, é comum perceber, de novo, que os próprios mecanismos de defesa se voltam contra o cidadão: casos de abuso policial são extremamente comuns. Mascarar o progredir.

Tornar-se independente está cada vez mais utópico. O porquê disso se resume a uma fórmula conhecida: um povo doente e mal educado (leia-se: alienado) acreditará facilmente que invadir favelas, a tiros e pontapés, resolverá o problema da pancadaria urbana. Com essa ilusão, fica fácil continuar reprimindo a vontade de liberdade que de certos pilares urge - liberdade que permitiria o verdadeiro salto rumo ao desenvolvimento nacional.

Brindes só acontecem em momentos nos quais todos os participantes estão felizes. Recuso-me, então, a levantar minha social taça de vinho: há muitos guerreiros que não estão independentes o suficiente para sentarem-se à "nossa" mesa de "felicidade".

domingo, 22 de julho de 2012

Rumo à normalidade

2012 representa mais um ano eleitoral em terras brasileiras. E antes das urnas, como sempre, haverá aquele tipo de chateação com que o cidadão já está habituado: santinhos deixando as ruas imundas; churrascos às escondidas (uma linguiça tem poder incrível); assistencialismo barato. Por conta disso, pessimismo é a única sensação possível em relação à politicagem nacional.

O que assaz incomoda é justamente o fato de toda essa má conduta por votos ter se tornado socialmente aceitável. Devido à recorrência das asquerosas manobras para conquistar mandatos, os candidatos sabem que não precisam apresentar boas propostas de campanha, pois o marketing rasteiro - aliado a algum benefício "por baixo dos panos" - faz milagres maiores do que uma posterior concretização de, por exemplo, metas educacionais. Afinal, por que educar quem precisa manter(-se) desinformado?

Nesse sentido, é imprescindível, embora também (historicamente) redundante, apontar a gigante culpa dos eleitores no esdrúxulo cenário político brasileiro. Qualquer popular minimamente pensante consegue perceber que um senador envolvido com bicheiro é resultado de um voto comprado ou, no mínimo, impensado. E pensar em política soa praticamente insano para uma nação onde muitos habitantes consideram nomes como Tiririca sinônimos de "votar com rebeldia" (acreditem, é verdade). 

Lembro-me de que, numa aula do Ensino Médio, certa professora de física comentou que era ilusória a noção de um sistema o qual pudesse continuar indefinidamente em movimento por meio de energia por ele mesmo gerada. Hoje, todavia, arrisco-me a discordar um pouco de minha docente. A politicagem corrupta no Brasil é um moto-perpétuo descarado: eleitores alienados geram políticos corruptos, que geram eleitores alienados, que geram políticos corruptos...

domingo, 24 de junho de 2012

Introduções textuais


Galera, seguem os três inícios textuais comentados em sala. Trata-se de exemplos acerca de como iniciar cada um dos gêneros da UNIOESTE.

Para evitar qualquer problema com a Folha (acreditem...), só postarei o link do artigo que serve de apoio às propostas. Eis:


 Leiam e pratiquem!

***

Artigo de opinião:

    “As ideologias, no Brasil, parecem perder-se facilmente. Isso se confirma, por exemplo, com o último acontecimento provindo de São Paulo: a aliança entre PT e PP rumo à prefeitura da megalópole – calcada nos laços de “amizade” firmados entre Fernando Haddad (à sombra de Lula…) e Paulo Maluf. Seria um lobo se unindo a outro?”

 Carta do leitor:

    "Prezado editor,
   O artigo "Aula de dignidade", de Gilberto Dimenstein, mostra-se no mínimo educativo quando discute a falta de ética presente em grande parte da política nacional. Como o senhor bem sabe, as alianças políticas assumem facetas esdrúxulas às vésperas de eleições; trata-se do estilo "vale tudo para eleger-se". Nesse contexto, a Folha de São Paulo acerta na tentativa de, por meio de colunas como a de Dimenstein, levar elucidação ao público."

Comentário interpretativo-crítico

   "Ainda resta esperança em relação à ética da política nacional. Essa é a expectativa abordada, com concisão e bastante coerência, no artigo “Aula de dignidade”, assinado por Gilberto Dimenstein. Em poucas palavras, o articulista ratifica que a atitude da petista Luiza Erundina – ao desligar-se da chapa de Fernando Haddad – mantém um pouco de honraria nas relações políticas nacionais. Sem tomar lado partidário, Dimenstein demonstra que a decisão de Erundina vai de encontro à prática “uma mão lava a outra” – tão comum aos candidatos a cargos políticos."

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Uma fácil percepção

Quem nasce em terras brasileiras é cercado por mitos. Trata-se de mentiras do tipo brasileiro é solidário ou brasileiro não tem preconceito. Todavia, a mais cabeluda das popularizadas fantasias pau-brasil é a de que brasileiro é povo trabalhador. Tal proposição, no mínimo, beira o ridículo.

Embora exista brasileiro honesto (sem ironias), preciso talhar a parte gorda da porcentagem, o que implica apontar os conhecidos casos em que um funcionário faz de tudo para matar serviço. Soa incoerente ao trabalhador tupiniquim entender, por exemplo, que UMA hora de almoço não significa sair 15 (quinze) minutos antes do meio-dia e voltar 600 (seiscentos) segundos após as 13h. E AI de quem bate o cartão nos horários normativamente pré-estabelecidos: está estragando o esquema!

Outra mania besta é contra-argumentar em situações de erro incontestável. Se um serviço sai errado e o consumidor reclama, coitado deste: tem de aturar xingamentos, insultos, sarcasmo por parte do prestador, pois deveria ter paciência; comprar em outro lugar; deixar o (pobre incompetente) trabalhador brasileiro em paz. E se o malandro ocupar cargo público, é capaz de o contratante levar um processo. Brasil.

Existem as redes sociais. Tão úteis (novamente, sem ironias) em diversos casos (ao que parece, reclamar de um serviço no Twitter, por exemplo, já é mais eficiente que no próprio Procon), acabam se tornando antagonistas em histórias laborais. Quantos chefes não perdem a cabeça porque seus empregados, brasileiros, trocam recadinhos no Facebook em vez de vender, ensinar, contabilizar? Volta e meia percebo cenas assim nos meus ambientes de... labuta.

E ocorre o caso de quem reclama quando um chefe cobra produtividade óbvia. E acontece de o patrão ir à empresa, ao fim do expediente, apenas para apanhar o lucro. Chego a crer que esses figurões esquecem seus objetivos trabalhistas: produzir e orientar! Não arguo que trabalhar se enquadre dentre as atividades mais divertidas do dia a dia, mas diversão tem um custo, o qual se cobre com salário. Só que parece difícil para o brasileiro entender que há hora para tudo - inclusive, em alguns sentidos, para deixar de ser brasileiro.