quarta-feira, 25 de julho de 2007

Nem toda queda é real

Difícil de acreditar: Marco Aurélio Garcia - assessor especial da presidência - nega que comemorou, frente às câmeras, uma possível falha mecânica no avião da TAM o qual provocou o maior acidente aéreo da história do Brasil. A próxima atitude dele, então, será assumir sua paixão pelo Tabajara Clube de Futebol. Primeira conclusão: duas mentiras. Segunda conclusão: não ocorre uma preocupação sincera com a situação no céu do país.



O vôo 3054 não foi um caso isolado. Em Congonhas, só esse ano, houve quatro deslizes na pista decadente. Vários pilotos têm declarado um sintético medo de pousar, em dias de chuva, no aeroporto da Zona Sul de São Paulo. Alguns, inclusive, combinaram não descer enquanto não acontecerem melhorias. O grooving, se é que existe, está precário. As rotas nacionais, em geral, possuem buracos negros em todo o percurso. A modernização dos aeroportos não acontece porque o órgão responsável - a Infraero - desvia a atenção (dos investimentos) para sabe lá Deus onde. A ANAC possui um presidente, Sr. Milton Zuanazzi, que se preocupa com receber medalhas desmerecidas e tenta empurrar argumentos falhos nas explicações acerca dos problemas da aviação civil.



Engana-se quem pensa que a apuração sobre as causas do acidente está acelerada. O mesmo equívoco se percebe em textos que afirmam que os governantes estão preocupados com o bem-estar da população. E erra, também, o leitor que crê na imediata reformulação da organização aérea do Brasil. Com o exemplo do primeiro parágrafo, claro está que o grande desafio dos excelentíssimos é desviar a atenção do público com relação à deficiência da aviação brasileira. O presidente da República não toma atitudes. Faz alguns dias que leio as mesmas frases: Lula consola as famílias dos mortos; Lula afirma que haverá solução; Lula pede para que ninguém se alarme. Palavras bonitas que, inclusive, meu vizinho e eu poderíamos declarar publicamente. Mas e as reais atitudes? Onde está a cura para essa doença que contamina o setor aéreo?



O chefe máximo não está sozinho. Infelizmente. E para nossa “alegria”, todo mundo continua na mesma lengalenga. Demitiu-se o Waldir Pires. Chamou-se o Nelson Jobim e, a este, foi dada a carta branca para qualquer mudança que ele deseje operar. Ora! A primeira medida deve criar uma ética política nesse Brasil (que canta mas não é feliz...). Outro que caiu foi o J. Carlos Pereira, até então presidente da Infraero (aquela que desvia até pensamento). Oposição e governo concordam que a hora do brigadeiro chegou. Ele se conscientizou disso quando disse “Estou pronto para sair”. Lamento que as mudanças, visíveis e necessárias há muitos anos, só hajam ocorrido após um (negativo) saldo de aproximadamente 200 mortes. Contudo, pensemos: vai melhorar alguma coisa com o troca-troca?



Permutar figurinhas repetidas não resolve o buraco dos álbuns. Com o perdão da morbidez, político ruim só sai de cena quando morre. Enquanto não, trabalhadores sofrem em todos os patamares com um problema que resulta de erros consecutivos e históricos. O sistema aéreo nacional atingiu o ápice da desqualificação: ou moderniza ou as carroças voltam. Segundo reportagem televisiva, há quem gaste R$ 1.100,00, em táxi, para evitar o avião. Bom pra quem tem grana; pior pra quem passa três dias mofando num pátio de aeroporto (... as carroças...). Santos Dumont teria outro motivo para suicidar-se caso presenciasse a atual baderna. Quem cai nunca é o homem público que ri da desgraça alheia. É o cidadão de bem.


2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo que sobre desce, espero que assim seja com o querido presidente!

Anônimo disse...

Sabe o que mais me repuguina? É saber que isso tudo será somente lembrando como mais uma tragédia da América Latina e o pior acidente envolvendo um Airbus A320 em todo o mundo.

Lamentável meu mais novo amigo.

Aqui na minha casa ninguém mais aguenta me ver horrorizada quando fico: "Óh meu Deus!", "Jesus!", "Nossa Senhora como podem?". Com razão, é de se espantar mesmo, principalmente ver a lentidão que tratam a dor dos familiares.

E me pego nessa hora, com meus pensamentos, ..."graças a Deus não conheço ninguém!" Sou egoista? Me desculpe, escapei hoje, vou pegar um onibus é mais seguro..." será também? Aiai, vou ficar em casa mesmo.

Ontem não me aguentei, sou mais uma que chorou ao ver um reportagem de uma mãe dizendo que foi no aeroporto esperar pelos filhos, junto do seu ex marido (pai das crianças), e que em suas mãos havia pláquinha com os dizeres dos nomes deles, um gesto de brincadeira e saudade ao mesmo tempo, acredito. E mal sabia ela, q os seus pequenos estavam queimando nas chamas. Não aguentei mesmo, parece mentira né?

Infelizmente não é um pesadelo das nossas noites de sono, que levantamos e dizemos :" ufaa, estamos bem, Amém!

É! Sou mais uma, e não sou ninguém pra poder dizer se isso irá se repedir, uma pena.