domingo, 4 de novembro de 2007

A Vida, a Morte, a Criação

"A morte, o problema da morte, é outra questão sobre a qual não se pode deixar de pensar. A obra de Tom Jobim daqui a cinqüenta anos, o que será? Falar em cem ou duzentos anos é imprudência nesse mundo em que tudo passa muito depressa e muda vertiginosamente. A partir de alguns anos, tudo é imprevisível. Penso, no entanto, que o futuro vai conhecer uma visão mais espiritual das coisas, o que talvez aumente o interesse pela obra de um Tom Jobim. Muitas vezes, conversando com os amigos, eles me perguntam o que estou fazendo agora. Costumo responder: ‘Estou escrevendo para a posteridade, estou trabalhando para a estátua’.

A criação é um ato de amor, alguma coisa que se comunica a toda a humanidade. Um artista não pode fazer nada que contribua para piorar o mundo. Acho que tenho deveres para com as pessoas com quem convivo.

A vida tem um sentido oculto, certamente. Fui criado em ambiente cético, de maneira agnóstica. Diante da natureza, sinto que toda a negação é ingênua, que Deus não nos teria criado para o nada.

As pessoas estão hoje muito mais rudes e agressivas do que há alguns anos. Numa rua perdida, num bairro tranqüilo, onde brincam crianças, um carro passa a toda velocidade pelo simples prazer de correr ou por qualquer outro motivo, indiferente a tudo e a todos. Se ao menos estivesse apressado para chegar a algum lugar. O aprendizado é difícil, a gente tem que se reeducar para não violentar os outros e para não se deixar violentar. Apesar de tudo, a vida pode ser agradável para quem gosta do que faz. Ali em cima daquele piano há músicas inéditas que precisam ser trabalhadas. Se tudo correr bem, se o avião não cair, a gente grava, a gente escreve, para deixar aí para os moços, para quem quiser e puder fazer melhor no futuro.

É isso aí o que eu queria dizer."

(JOBIM, Helena. Tom Jobim - Um Homem Iluminado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.)

3 comentários:

Unknown disse...

Muito bom!
Isso sobre o mundo me lembra um trecho do nosso querido George Orwell, em "1984"...
Abraços!

Anônimo disse...

Certamente não me conhece, sou prima de uma aluna sua,
foi ela quem me mostrou seu blog, achei incrivel o modo como você se refere a cada assunto, todos eles muito interessantes.
so estou aqui mesmo para dizer que adorei tudo, seu modo de pensar é brilhanti, quero futuramente poder ter um modo de pensar como o seu!


Meus parabens!
ass: Juliane Melo!

Simone Petry disse...

"Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."

o Ismália...muito atento vc caríssimo. rs

pois este Vinícius , este mais escondidinho, me surpreende positivamente.

Mozer, pode me chamar como quiser meu querido, a você eu atendo. rs

e viva as férias...eu tô precisando tanto ....mas tô feliz..e vc assim seja também!!

e vamos nos falando e nos lendo nos blogs

com muito carinho

Si