domingo, 18 de novembro de 2007

Aquiles, cadê você?

No caminho de volta pra casa, hoje, um cidadão desesperado me parou com a súplica "Moço, como faço pra chegá no cemitério Água Verde? Mataram minha irmã de deiz anos, deiz anos...". Além de o coitado estar de bicicleta, chovia. O choro daquele homem era sincero a ponto de eu me perder nas coordenadas. Que belo panorama para uma noite de domingo.

A violência, em Curitiba, atingiu seu auge. A capital paranaense percebe-se abandonada no quesito segurança pública. O prefeito projeta ruas, ruas, ruas... Mas não cogita a fixação de policiamento em famosos pontos de marginalidade. Lembro, ainda, as promessas de campanha não cumpridas que, de certa forma, contribuem para a insegurança: passagem não se congelou; a Unidade de Saúde 24h do Pinheirinho que, de oito salas, apresenta apenas duas disponíveis para o público; a não continuação do calçamento; o diálogo com as classes sociais. Descaso de um tucano para com os adestradores que lhe dão comida.

Semana passada, na Rui Barbosa, dois elementos apontaram a arma para roubar o boné de um estudante. Isso ocorreu às 22h, em pleno 15 de novembro, a dois metros de mim. O detalhe da cena está no fato de toda sã consciência saber que o cruzamento da André de Barros com a Visconde de Nacar é dos mais violentos da cidade. Não havia sequer uma viatura parada ali por perto. Aliás, faz tempo que a única manifestação da polícia são investidas frustradas na primeira viela de alguma favela. A bandidagem agradece essa cortesia!

Também sofre quem transita ou trabalha em transporte coletivo. Certas linhas chegam a ser assaltadas três vezes por dia. Os batedores-de-carteira têm muito serviço nos Ligeirinhos lotados. Molestadores atingiram o ponto de aliciar crianças de dez, onze anos. Idosos recebem agressões fortíssimas. Mas pra que que o PSDBista vai se preocupar se ele circula de caminhonete 2007? As ruas criadas servem para ele melhor dirigir o veículo (blindado, no seguro, com dois particulares dentro) novo.

Sei, com o perdão da expressão, que a coisa ´tá feia em todas as cidades brasileiras. A viúva de umas das vítimas do acidente com o vôo 3054 (aquele dos 187 mortos) teve de sair do país porque uma quadrilha visou à indenização que nem foi paga ainda. No Rio, os tiroteios ao meio-dia condensam-se diariamente. Os fazendeiros do Pará; os Magalhães na Bahia. Só que Curitiba possui só 30 (trinta) anos de "metrópole"! Se, nesse pouco tempo, os índices negativos conseguiram tamanho patamar, terão meus filhos sustentabilidade social pelo menos adequada?

Às vezes eu fantasio haver um Aquiles escondido por aí. Anseio pelo momento em que ele retornará à guerra - só que urbana, agora - para ajudar a nossa sociedade. Mas se nem na literatura o final é sempre feliz, imagina na vida real. Homer(o), ai Homer(o).

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente a polícia serve pra dar porrada em preto e pobre e nunca pra prender bandido e cumprir com o dever dela. A coisa tá feia e isso independe de partido. Aliás, o único partido que o Brasil precisa é justamente aquele que não existe, aquele deveria ter como missão a melhora das condições de vida nesse país e não do dinheiro que vai pro bolso dos malditos políticos.