segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um exorcismo

Para o vestibular, preparei-me num cursinho. A professora de geopolítica, certa vez, levou música para a sala. Objetivava trabalhar a ditadura militar brasileira - interessante ligação! Quer dizer, interessante para 348 alunos, porque duas gurias criticaram:

- O que uma coisa tem a ver com a outra?

Os anos passaram. Leciono e noto que "metidos a nada" persistem. Não entendem exposição do conteúdo por áreas de conhecimento ("sugerida" pelo MEC). Ao explicar sobre inclusão social, tecnologia da comunicação e variação linguística, o professor aguenta - em meio a "Você é moleque":

- Isso é enrolação, é contá historinha. A gente queremo matéria.

"a gente" representa a mesma quantidade da minha época de aluno: 2. Contudo, é suficiente para derrubar o espírito do professor. Seis horas de preparação fora da sala; vinte minutos de reclamação desafinada e infantil...

Mesmo a didática da moeda foi considerada. Ao final, os demais alunos elogiam e pedem a permanência da maneira de lecionar. O mestre reconhece seu valor, mas pensa:

- Até que ponto vale a pena?

Talvez até o discente passar no vestibular; a aluna do 2º ano conseguir tirar o primeiro 10,0 (maldito 9,9!); o funcionário público agradecer. Virtudes! Em meio à irritação, uma certeza:

- Deixemos os encostos em paz.

2 comentários:

Giulianne B. disse...

Tudo isso realmente tem um fundo de verdade, seja em escolas públicas ou particulares. Ótimo texto, professor!

desireemarie disse...

Sempre tem os alunos que servem só pra incomodar: não fazem nada o ano inteiro, conversam e ainda reclamam dissimuladamente. Mas pra ser professor é preciso ter fibra, nunca pense em desistir por causa de alguns chatos!