Quem mais, além dela, trama cenas inconvenientes e mesmo assim não nos chateia? Quer dizer: na adolescência, odiamos quando os amigos riem da foto do neném pelado; um pouco mais maduros, todavia, aprendemos a fazer piada desse tipo de sacanagem na qual mãe é especialista. Tão normal!
Lembro-me de já ter passado poucas e boas nas mãos da minha progenitora. Algumas surras foram antológicas, assim como o abraço após as decepções que a vida insiste em nos apresentar. Hum... e quando a gente volta correndo pra casa, após a temporada na praia, só pra provar o feijão que apenas ela sabe preparar? (Pode trocar o feijão por outro prato de maior preferência.)
Mães têm um quê de bruxa e fada. Elas encontram, na devida prateleira, a blusa que por vinte mil vezes havíamos procurado! E se negligenciamos essa mesma peça de roupa antes de um passeio num dia ensolarado, o arrependimento bate nervoso: frio cortando até a alma. A gente demora a aprender que palavra materna não deve ser desobedecida.
Alguém já viu uma mãe chorar? Nada parte mais o coração. E pensar que esse pranto tantas vezes é unicamente por nossa culpa... Ela também dorme menos do que nós, visto que precisa estar apta a nos embalar ou preparar um café que deveria ser capaz de vencer qualquer mau humor matinal. Tudo isso sem cobrar taxa de serviço - pelo menos não em espécie.
Antes de publicar esta crônica, mostrei o esboço à minha mãe. O que ela disse? "Muita gente vai criticar o título, que não demonstra... criatividade". Rebati, porém: quer palavra mais criativa, na teoria e na prática, do que "mãe"? Inclusive quando, durante uma bronca, repete mil vezes que sem ela a casa inteira morreria...
E com razão.