A atriz sobe no palco para encantar
o público... outra vez. Ela declama, dança, canta – e a plateia começa a
perceber a própria vida.
O senhor, já velhinho, lembra-se de folias várias. As festas da sua adolescência (“Diferentes dessas putarias de hoje”) faziam-no bastante feliz. Considera também que as próprias experiências amorosas poderiam virar uma peça, mas ele saberia interpretá-las com a excelência da atriz? Resigna-se à força da memória, comemorando viúvo por ter sido feliz.
A senhora, vestida de preto, chora a solidão. Conviveu durante um tempo longo com alguém que não a amava, mas qual o mal? Gostava dele. Gostava de verdade! Até hoje visita o túmulo de quem, embriagado, agredia-a todo dia – e amargura críticas por isso. Só que ao ouvir a atriz jurar paixão eterna, no primeiro ato da peça, percebe que ainda pode, no último ato da vida, buscar alguma boa lembrança que se sobreponha às antigas aflições.
A jovem apaixonada encanta-se com a poesia da atriz. Enxerga em cada fala as próprias idealizações para o amor. Está naquela fase em que (se) acredita que tudo vai ser perfeito, mal sabendo que o rapaz que a olha, na fileira ao lado, será o responsável pela primeira decepção passional. É um belo roteiro para alguma tragédia, mesmo que tal trama já seja manjada... A jovem, no entanto, vai optar pelo risco.
A própria atriz se redescobre. O teatro é sua vida – e as transformações da personagem são as transformações da própria mulher. A indumentária, a sonoplastia, as marcações não se restringem à ficção: amalgamam-se ao concreto e ninguém separa mais o cisne da bailarina. Após duas horas, quando abandona o palco, nota que não consegue parar de interpretar. Só que essa interpretação não é mais mentirosa: é aquela necessária à felicidade idiossincrática (encanto maior não há).
Já o cronista... Bom, o cronista aprendeu um novo modo de enxergar a si mesmo. A atriz explana todas as sensações – e ele tem todas essas sensações em si, mas não conseguia alcançá-las. Cada diálogo a que ele assistiu resgatou mudanças: o aperto de mão mais sincero, a paciência com quem reclama, o trecho certo do clímax e do desfecho. Cena após cena, o teatro desmistifica a impossibilidade de mudança do homem, sem muito mistério em torno do porquê disso...
É que a atriz ensina, no palco, como a vida fora dele deve ser.
O senhor, já velhinho, lembra-se de folias várias. As festas da sua adolescência (“Diferentes dessas putarias de hoje”) faziam-no bastante feliz. Considera também que as próprias experiências amorosas poderiam virar uma peça, mas ele saberia interpretá-las com a excelência da atriz? Resigna-se à força da memória, comemorando viúvo por ter sido feliz.
A senhora, vestida de preto, chora a solidão. Conviveu durante um tempo longo com alguém que não a amava, mas qual o mal? Gostava dele. Gostava de verdade! Até hoje visita o túmulo de quem, embriagado, agredia-a todo dia – e amargura críticas por isso. Só que ao ouvir a atriz jurar paixão eterna, no primeiro ato da peça, percebe que ainda pode, no último ato da vida, buscar alguma boa lembrança que se sobreponha às antigas aflições.
A jovem apaixonada encanta-se com a poesia da atriz. Enxerga em cada fala as próprias idealizações para o amor. Está naquela fase em que (se) acredita que tudo vai ser perfeito, mal sabendo que o rapaz que a olha, na fileira ao lado, será o responsável pela primeira decepção passional. É um belo roteiro para alguma tragédia, mesmo que tal trama já seja manjada... A jovem, no entanto, vai optar pelo risco.
A própria atriz se redescobre. O teatro é sua vida – e as transformações da personagem são as transformações da própria mulher. A indumentária, a sonoplastia, as marcações não se restringem à ficção: amalgamam-se ao concreto e ninguém separa mais o cisne da bailarina. Após duas horas, quando abandona o palco, nota que não consegue parar de interpretar. Só que essa interpretação não é mais mentirosa: é aquela necessária à felicidade idiossincrática (encanto maior não há).
Já o cronista... Bom, o cronista aprendeu um novo modo de enxergar a si mesmo. A atriz explana todas as sensações – e ele tem todas essas sensações em si, mas não conseguia alcançá-las. Cada diálogo a que ele assistiu resgatou mudanças: o aperto de mão mais sincero, a paciência com quem reclama, o trecho certo do clímax e do desfecho. Cena após cena, o teatro desmistifica a impossibilidade de mudança do homem, sem muito mistério em torno do porquê disso...
É que a atriz ensina, no palco, como a vida fora dele deve ser.
5 comentários:
Lindo texto!
*-* Amei!
Parabéns pelo texto. Não deixe de escrever, sempre terá leitores apreciando seu trabalho.
Muito bom
Muito bom
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