terça-feira, 20 de novembro de 2007

Análise da 1ª fase do vestibular da UFPR - Português

A prova manteve-se na normalidade da UFPR. Solicitou-se muita interpretação; o que houve de gramática estava contextualizado. No mais, acompanhem a análise proposta.

O primeiro texto, “Sem culpa e sem vergonha”, retirado da revista Veja, era base de três testes. O título, inclusive, já indica uma correlação que um exercício retoma. Damatta dissertou sobre corrupção. Do passado ao presente, tratou das diversas manifestações corruptas do país – com foco principal na atualidade. Para o autor do texto, esse problema por que passamos, enquanto organização política, está no fato de protegermos aqueles que nos são próximos, independente do erro que eles cometeram. Quando, porém, o erro foi cometido por pessoas distantes, assumimos posição de justiceiros e exigimos rigor da lei. Para ilustrar, ele veste a dualidade com as parcerias existentes entre políticos.

46) Resposta correta: Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. A 1 está errada porque, no texto, o autor menciona que a "ética particularista" e a "ética universalista" "operam em qualquer sistema social" (primeira frase do segundo parágrafo). A 3, ao propor que "... a corrupção (...) está vinculada a determinadas ideologias e partidos políticos.", contradiz o que o autor escreve em "como revela o governo Lula, independe de colocação ideológica ou partido político" (quarta frase do primeiro parágrafo; grifo meu).

47) Resposta correta: um grupo de parlamentares. Aqui, duas maneiras básicas de encontrar a alternativa certa: perceber a ironia composta nas locuções em torno do "nosso" e do "nos", numa representação - em discurso indireto livre - da fala de alguns políticos; notar que, por exemplo, "o povo brasileiro" NÃO foi favorecido em inúmeras situações pelo presidente do Congresso Nacional (o que anula a alternativa que trazia "o povo brasileiro" como possibilidade).

48) Resposta correta: distancia os políticos do seu papel social. À leitura de "Tenho para mim que o intolerável e verdadeiramente enlouquecedor (...) a manifestação daquelas duas éticas no campo do "político", justamente a esfera destinada a resolver a duplicidade." (primeira frase do terceiro parágrafo; grifo meu), percebe-se que autor somente não admite a dupla manifestação ética entre políticos. A alternativa "se relaciona com sentimentos de culpa a vergonha, decorrentes da ética da rua e da casa, respectivamente." contém erro, justamente, na ordem que estipula para as éticas e respectivos sentimentos.

49) O texto da questão era sobre a proposta de rodízio de carros do vereador Custódia da Silva - medida que visa à diminuição de congestionamentos e queda da poluição. Reparem na fonte: texto do site da Gazeta do Povo. Isso justifica a importância, dada em sala de aula, da leitura de conteúdos dispostos na rede.

Resposta correta: [...] no centro da cidade é impossível transitar com veículo nos dias de semana [...] o centro tem um excelente sistema de trasporte e caminhar só fz bem à saúde. (E.M.). Essa foi a única manifestação favorável à implantação do rodízio. As demais, com atenção interessante ao humor da "Minha opinião é... quem foi que votou nesse vereador Custódia da Silva??? (L.G.P.I.)", são contra.

O texto "A Filosofia como investigação", contido na edição de agosto de 2007 da revista Cult, deveria ser interpretado para as questões 50 e 51. O autor, Waldomiro José da Silva Filho, aborda como tema central a verdadeira definição para o cético filosófico. Ele defende a idéia de o cético negativo ser conceito pertencente ao momento moderno da filosofia. Para justificar essa opinião, resgata o conceito cético encontrado nos pensamentos dos filósofos gregos antigos e o confronta com Descartes. Aqueles, em suas formulações, transmitiam o lado interessante do pensamento cético, pois seus questionamentos eram embasados nos motivos para iniciar a creça em algo - ao cotrário do que propunha este.

Obs. 1: os que terão prova específica de filosofia... Prestem atenção no texto! - principalmente por: presença de Descartes; menção a "gregos antigos"!

Obs.: 2: ad hoc, latim, traduz-se ao pé-da-letra por para isto.

50) Resposta correta: Dizer que não se sabe ou não se tem certeza de nada já representa um conhecimento e uma certeza. Nota: "refutável" (latim refutare) significa "contestável". Aquele que afirma não saber de nada, obrigatoriamente descobriu algo sobre seu saber; quem não tem certeza de nada, apresenta uma certeza quanto à incerteza que possui. Ou seja: toda conclusão em forma de afirmação vai representar, sim, um aprendizado, um saber.

51) Leiam estas sentenças, retiradas do texto:
- "Essa atitude negativa que se atribui ao filósofo cético (...) tal dúvida é inventada por filósofos modernos.";
- "... já disse que a filosofia moderna e contemporânea costuma recorrer a "caricatas figurações" (...)";
- "Há, assim, ma diferença crucial entre o cético moderno e o cético antigo. O primeiro lança uma dúvida radical sobre todos os domínios do conhecimento."
- "mas a pergunta mais fundamental: 'temos alguma razão para acreditar?'".

Resposta correta: O ceticismo moderno questiona as condições do conhecimento; o antigo, se há por que crer. (Reparem que esta última oração é pura paráfrase de "temos alguma razão para acreditar?".) As frases transcritas contradizem os erros das alternativas desconsideradas.

52) Resposta correta: Os otimistas têm menos possibilidades de morrer de doenças cardiovasculares do que os pessimistas, afirmam os pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Holanda. À leitura da segunda parte do texto, dada no enunciado da questão, a primeira parte obrigatoriamente precisava conter uma comparação entre "otimistas" e "algum outro grupo" (no caso, pessimistas) - com ênfase positiva naqueles, para a permanência da coerência. Nenhuma das outras proposições acordava com tais "exigências".

53) A charge de Fausto, intitulada "Brasil em ação", retirada de http://www.charges.com.br/, trazia quatro quadros com acontecimentos brasileiros. Queimadas florestais, violência em torno do avanço urbano, crises na saúde e no fornecimento elétrico e o caso Renan Calheiros estavam dispostos lado-a-lado: símbolos das últimas ações ocorridas no país.

Resposta correta: Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. A 3 está incorreta porque a vergonha do brasileiro se representou na fala das personagens - não no mico. Na 4, o erro encontra-se no fato de a afirmativa igualar as pessoas da charge aos políticos brasileiros - quando elas representam o povo indignado.


"Modos de pensar a televisão" é um artigo, retirado da revista Cult, de Arlindo Machado. O texto se inicia com o conceito de seriação televisiva. Um programa, dividido em partes, também remonta a uma divisão: ele pertence ao conjunto das apresentações que sofreu ao decorrer do tempo. Tal conjunto se chama seriação. O autor compara esse tipo de processamento à produção em série das fábricas automobilísticas: recurso para manter no ar, por muito tempo, programações baseadas na repetição de um mesmo esqueleto.

Por fim, ocorre um explicação ambientada para a seriação televisa. Como a programação da televisão compete com vários aspectos "caseiros", capazes de tirar atenção do telespectador, a repetição da programação é uma forma de reiterar, a cada segundo, o que acontece na telinha - sem permitir o desinteresse de quem assiste. Daí a importância da receptitividade e da criatividade que o programa deve possuir.

54) Resposta correta: decorre tanto das condições de produção dos programas quanto de sua recepção. Justificativas: "... as razões que levaram a televisão a adotar a seriação como a principal forma de estruturação de seus produtos audiovisuais. Para muitos, a televisão (...) funciona segundo um modelo industrial e adota como estratégia produtiva as mesmas prerrogativas da produção em série que já vigoram em outras esferas industriais..." (primeira e segunda frase do segundo parágrafo) e "... se vê permanentemente constrangida a levar em consideração as condições de recepção..." (quarta frase do terceiro parágrafo) são dois trechos retirados do texto. As demais alternativas ou apresentam equívocos (como a que menciona "pouca criatividade") ou não apresentam informações contidas no texto.

55) Resposta correta: "[...] a produção televisual se vê permanentemente constrangida a levar em consideração as condições de recepção [...]" (forçada). O termo, em destaque na frase, transmite idéia de obrigação, de atitude à força. "constrangida" é particípio passado de "constrangir" - que veio do latim constringere e significa, entre outros, "forçar" - verbo que, por sua vez, gerou o particípio "forçada".

As outras palavras:
- prerrogativa (latim praerogativa): regalia, apanágio, privilégio;
- intrínseco (latim intrinsecu): que está no interior de uma coisa, e que lhe é próprio, essencial;
- contingência (latim contingencia): eventualidade, possibilidade imprevisível, incerteza;
- fragmentário (latim fragmentu): que se encontra em fragmentos, sem unidade.

56) Resposta correta: Os presídios não são uma forma de mudar o ponto de vista de quem esteja lá preso. Não é porque foi preso que um marginal que já fez de tudo na vida vai mudar totalmente. Repare que ocorre a concordância verbal entre o sujeito "Os presídios" e o verbo "são" e entre o sujeito "um marginal" e o verbo "vai". Duas alternativas não obedeciam a essa gramaticalidade - concordância verbal. Das outras duas, uma apresentava contradição ("Os presídios não são uma forma de mudar (...) um marginal (...) vai mudar totalmente"); a outra atribui a mudança ao que o marginal já fez na vida, não ao presídio.

57) A charge "Engenheiros de vendas", retirada do jornal Folha de São Paulo, retrata uma conversa ambígua entre um patrão e um consumidor.

Resposta correta: Somente a afirmativa 2 é verdadeira. A ambigüidade ocorre em torno da locução " É verdade?" - que possibilita a confirmação do atributo que o produto teria (o de consertar-se sozinho) ou a confirmação SOMENTE de que o vendedor disse algo (o que NÃO implica a veracidade do que foi dito pelo vendedor). A 1 e a 3 estão incorretas justamente porque o patrão, ao confirmar SOMENTE a fala do vendedor, subjetivamente torna mentiroso o auto-conserto do produto em questão.

Dúvidas? prof.mozao@gmail.com!!

Um comentário:

Patrícia disse...

Oi professor.
Nunca tinha passado aqui, tem coisas bem interessantes.
Gostei da análise da prova :)
Boa semana, até mais.