Para o vestibular, preparei-me num cursinho. A professora de geopolítica, certa vez, levou música para a sala. Objetivava trabalhar a ditadura militar brasileira - interessante ligação! Quer dizer, interessante para 348 alunos, porque duas gurias criticaram:
- O que uma coisa tem a ver com a outra?
Os anos passaram. Leciono e noto que "metidos a nada" persistem. Não entendem exposição do conteúdo por áreas de conhecimento ("sugerida" pelo MEC). Ao explicar sobre inclusão social, tecnologia da comunicação e variação linguística, o professor aguenta - em meio a "Você é moleque":
- Isso é enrolação, é contá historinha. A gente queremo matéria.
"a gente" representa a mesma quantidade da minha época de aluno: 2. Contudo, é suficiente para derrubar o espírito do professor. Seis horas de preparação fora da sala; vinte minutos de reclamação desafinada e infantil...
Mesmo a didática da moeda foi considerada. Ao final, os demais alunos elogiam e pedem a permanência da maneira de lecionar. O mestre reconhece seu valor, mas pensa:
- Até que ponto vale a pena?
Talvez até o discente passar no vestibular; a aluna do 2º ano conseguir tirar o primeiro 10,0 (maldito 9,9!); o funcionário público agradecer. Virtudes! Em meio à irritação, uma certeza:
- Deixemos os encostos em paz.