O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O rofessor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Profissão de risco. Além do trabalho ininterrupto, o perfeccionismo atormenta um professor comprometido. A aula termina; os alunos entenderam a matéria; o docente acha que pode superar-se.
Sem macetes ou comentários desnecessários. Português: variação lingüística, teoria da comunicação, gramática, interpretação de texto, literatura... Variações dum mesmo tema. E mesmo quando o discípulo diz "Prof., você me fez leitor!", certo vazio persiste...
Um amigo: "Cara, isso é responsabilidade, é bom! Uma aula toma muito tempo!". De fato, começa antes da sala. Em pré-vestibular, a preparação aumenta - pois além de ensinar, encara-se a sensibilidade onírica do discente. Então, frase engraçada para análise sintática, crônica do Luis Fernando Verissimo para interpretação, apostas "esquisitas". E que todos aprendam.
Perguntar "Entenderam?" e ouvir "Sim!" pertence ao grupo dos prazeres máximos. Exemplo: o aluno, aparentemente dorminhoco, resolve o exercício assim que solicitado. E o vazio, aos poucos, cede ao contentamento. A perfeição se manifesta em preocupações e risos.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Em busca da música perdida
O pessoal da horda NX Zero disse que toca "rock do bem", diferentemente de cabeludos que se batem em shows e escrevem porcarias. Agressividade gratuita acompanha incapacidade: os ruinzinhos atacam os bonzinhos, pois por si só conseguem um clipe na MTV.
As "minhas" bandas não agradam à geração deprimente. Comparar o rock dos anos 60, 70 e 80 com as bandas que hoje fazem a cabeça da moçada não condiz. Impressiona-me alguém que prefira CPM 22 ao Pink Floyd, ao KISS, aos Paralamas do Sucesso. Mas...
... Analisemos. No nome, as bandas ritualizam um pacto de (não)criatividade: colocam um amontoado de letras maiúsculas; depois, inventam um significado para elas - que possui menos sentido que a própria sigla. As citadas hordas procederam assim, semelhantes a SPC e KLB. Sobre as letras...
... "Aonde eu moro, aonde eu vou / Como tudo sempre muda ao redor do sol": a primeira palavra, de acordo com a maldita gramática, escreveu-se erradamente, pois para idéia estática o uso correto é onde e não aonde. No mais, esses chavões de "tudo muda ao redor do sol" continuam bregas: você, leitor, muda quando sob o sol? Fica verde igual ao Huck ou seus cabelos caem; sua casa começa a voar?...
... "Longos foram os dias que eu fiquei a te esperar / No fundo eu já sabia, que eu não iria te encontrar...": letra reveladora. Primeiro, a teórica rima pobre - a minha cadelinha consegue sonorizar dois verbos no infinitivo ("latir" com "dormir"). Segundo, a exposição retardada: se sabia que não encontraria a dita cuja, por que aumentar o predicativo "fracassado"?...
... "Eu vou agora / Eu vou com ou sem você / Eu vou embora / Não quero mais andar em círculos". Quase um perpetuum mobile , não? "Com Raça posso até vencer / nas curvas vou ultrapassar / no limite até o fim / cada segundo que ganhei / cada suor que derramei / podem levar ao primeiro lugar / da velocidade dos nossos corações / e no lugar mais alto / Levar o país inteiro / e cada vez mais alto / Vibrar por ser o primeiro": sério, cadê a coerência interna do verso "da velocidade de nossos corações"? Não consigo entender. Lamentável: a música se chama "Fórmula 1"...
Sim, as músicas "analisadas" pertencem ao NX Zero. Se é isso que eles chamam de "não falar besteira", (quase) desisto de pensar sobre "High Hopes" e "Wish you were here", "Rock and roll all nite" e "Forever"", "Aonde quer que eu vá" e "Lanterna dos afogados".
Dá-lhe Brasil: único país onde desgraças siglamatizadas duram mais que três meses.
As "minhas" bandas não agradam à geração deprimente. Comparar o rock dos anos 60, 70 e 80 com as bandas que hoje fazem a cabeça da moçada não condiz. Impressiona-me alguém que prefira CPM 22 ao Pink Floyd, ao KISS, aos Paralamas do Sucesso. Mas...
... Analisemos. No nome, as bandas ritualizam um pacto de (não)criatividade: colocam um amontoado de letras maiúsculas; depois, inventam um significado para elas - que possui menos sentido que a própria sigla. As citadas hordas procederam assim, semelhantes a SPC e KLB. Sobre as letras...
... "Aonde eu moro, aonde eu vou / Como tudo sempre muda ao redor do sol": a primeira palavra, de acordo com a maldita gramática, escreveu-se erradamente, pois para idéia estática o uso correto é onde e não aonde. No mais, esses chavões de "tudo muda ao redor do sol" continuam bregas: você, leitor, muda quando sob o sol? Fica verde igual ao Huck ou seus cabelos caem; sua casa começa a voar?...
... "Longos foram os dias que eu fiquei a te esperar / No fundo eu já sabia, que eu não iria te encontrar...": letra reveladora. Primeiro, a teórica rima pobre - a minha cadelinha consegue sonorizar dois verbos no infinitivo ("latir" com "dormir"). Segundo, a exposição retardada: se sabia que não encontraria a dita cuja, por que aumentar o predicativo "fracassado"?...
... "Eu vou agora / Eu vou com ou sem você / Eu vou embora / Não quero mais andar em círculos". Quase um perpetuum mobile , não? "Com Raça posso até vencer / nas curvas vou ultrapassar / no limite até o fim / cada segundo que ganhei / cada suor que derramei / podem levar ao primeiro lugar / da velocidade dos nossos corações / e no lugar mais alto / Levar o país inteiro / e cada vez mais alto / Vibrar por ser o primeiro": sério, cadê a coerência interna do verso "da velocidade de nossos corações"? Não consigo entender. Lamentável: a música se chama "Fórmula 1"...
Sim, as músicas "analisadas" pertencem ao NX Zero. Se é isso que eles chamam de "não falar besteira", (quase) desisto de pensar sobre "High Hopes" e "Wish you were here", "Rock and roll all nite" e "Forever"", "Aonde quer que eu vá" e "Lanterna dos afogados".
Dá-lhe Brasil: único país onde desgraças siglamatizadas duram mais que três meses.
domingo, 6 de julho de 2008
Nua e crua
Folha de São Paulo, caderno Cotidiano: "Homem mata amigo após traição da mulher em Santa Catarina"; "Dois morreram em tiroteio durante quermesse" (SP); "Policiais militares são suspeitos de matar jovens" (SP); "Dois são presos com 305kg de droga em meio a melões" (BA).
O Globo, coluna G1: "Menina de 6 anos morre atropelada por carro da polícia" (RJ); "Acidente fere trabalhadores rurais em SP"; "Festa em escola acaba com um morto e nove feridos no RS"; "Menina de nove meses é baleada em MG".
Zero Hora, capa: "Arma é roubada em ataque a posto rodoviário em Santa Cruz do Sul" (RS); "Jovem sofre tentativa de homicídio em Novo hamburgo" (RS); "Presos supostos líderes de quadrilha que aterrorizava cidades" (BR); "Polícia encontra quatro corpos em casebre na Capital" (RS).
O Estado do Paraná, seção Polícia: "Triplo homicídio na Cidade Industrial" (PR); "Jovem é morto dentro de casa no Cajuru" (PR); "Criança de dois anos é morta pelo padrasto" (PR); "Morre atropelado na BR-116 após cair da moto" (PR).
Todas publicadas em 06 de julho de 2008. Variação dum mesmo tema: violência múltipla. Na patética melhor cidade do Brasil, alguns dados alegram a bandidagem. Média de homicídio: em 2007, 1,6 morto por dia (ou 589 no ano); média de furto e roubo de carros: em 2007, 16,6 por dia (ou 6079 no ano); média de assalto a ônibus: em 2005, 8,72 por dia (ou 3181 no ano).
A isso, não se esforça combate. E a região central se revela tão ruim quanto os bairros. Ao lado da Reitoria da UFPR (representante máxima do turismo local), aumentei a primeira estatística que expus... Adianta tanta rua, tanto binário, se não existe segurança? Domingo, pelos parques, contam-se nas unhas os policiais que rondam os ambientes. Estradas, estacionamento público? Nem-um guardinha ao lado.
Crer ou não crer, eis a questão. Tanta liberdade descontrolada só gera perda de esperança.
O Globo, coluna G1: "Menina de 6 anos morre atropelada por carro da polícia" (RJ); "Acidente fere trabalhadores rurais em SP"; "Festa em escola acaba com um morto e nove feridos no RS"; "Menina de nove meses é baleada em MG".
Zero Hora, capa: "Arma é roubada em ataque a posto rodoviário em Santa Cruz do Sul" (RS); "Jovem sofre tentativa de homicídio em Novo hamburgo" (RS); "Presos supostos líderes de quadrilha que aterrorizava cidades" (BR); "Polícia encontra quatro corpos em casebre na Capital" (RS).
O Estado do Paraná, seção Polícia: "Triplo homicídio na Cidade Industrial" (PR); "Jovem é morto dentro de casa no Cajuru" (PR); "Criança de dois anos é morta pelo padrasto" (PR); "Morre atropelado na BR-116 após cair da moto" (PR).
Todas publicadas em 06 de julho de 2008. Variação dum mesmo tema: violência múltipla. Na patética melhor cidade do Brasil, alguns dados alegram a bandidagem. Média de homicídio: em 2007, 1,6 morto por dia (ou 589 no ano); média de furto e roubo de carros: em 2007, 16,6 por dia (ou 6079 no ano); média de assalto a ônibus: em 2005, 8,72 por dia (ou 3181 no ano).
A isso, não se esforça combate. E a região central se revela tão ruim quanto os bairros. Ao lado da Reitoria da UFPR (representante máxima do turismo local), aumentei a primeira estatística que expus... Adianta tanta rua, tanto binário, se não existe segurança? Domingo, pelos parques, contam-se nas unhas os policiais que rondam os ambientes. Estradas, estacionamento público? Nem-um guardinha ao lado.
Crer ou não crer, eis a questão. Tanta liberdade descontrolada só gera perda de esperança.
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